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Displays brasileiros despertam interesse internacional

October 28

O pesquisador Victor Pellegrini Mammana, do Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA), foi convidado pela Society for Information Display (SID) a participar de um evento sobre o projeto do laptop de US$ 100, conhecido como One Laptop per Child, em Austin, nos Estados Unidos, de 12 a 15 de setembro. O evento, organizado pelo Texas Chapter, da mesma cidade, discutiu os desafios para a implementação do projeto, focando em especial na questão da tela do laptop, ou o display. Mammana apresentou os estudos dos displays voltados para a versão brasileira do programa. A SID, que o convidou, é uma organização internacional que reúne mais de seis mil pesquisadores de inúmeras instituições mundo afora, das mais variadas disciplinas envolvidas na pesquisa de displays.


A palestra do brasileiro ofereceu uma visão dos desafios que precisam ser vencidos no Brasil para viabilizar a distribuição de computadores para fins educacionais. Além disso, também discutiu os esforços feitos para a produção do display dentro da margem de custo estimada para o computador. O monitor é o maior desafio para a meta de se chegar a um equipamento de baixo custo. “O display representa uma boa parcela do custo total de qualquer laptop e, além disto, consome boa parte da energia da bateria. Sem um display suficientemente barato e com consumo de energia baixo, os programas de distribuição de laptops para a educação podem ficar inviáveis. É preciso equacionar custo, ergonomia, aceitação por parte das crianças e a autonomia da bateria”, afirma o pesquisador.

 
A alternativa que vem sendo buscada para enfrentar esses desafios é a utilização de pequenos espelhos inseridos nos elementos de imagem (os pixels) dos displays de cristal líquido (LCDs, na sigla em inglês). Esses espelhos refletem parte da luz ambiente de volta ao olho do usuário, aproveitando a energia do ambiente e, portanto, economizando bateria. Esta é a tecnologia usada pela OLPC, organização sem fins lucrativos dedicada à pesquisa para o laptop de US$ 100. Por outro lado, essa inserção dos pequenos espelhos prejudica o brilho, a resolução e o contraste do display em modo colorido. Portanto, ainda é necessário avaliar se esta nova proposta será bem aceita pelos usuários mirins, que também são consumidores exigentes.


Mammana é um pesquisador da Divisão de Mostradores da Informação do CenPRA, que desenvolve displays planos em variadas tecnologias, incluindo os LCDs. Esta área representa uma oportunidade para competição no mercado internacional, uma vez que várias tecnologias ainda estão em competição, não havendo uma que já esteja consolidada para todos os segmentos de mercado. O Brasil dispõe de competência em várias áreas de displays envolvendo cristais líquidos e nanoestruturas usadas na pesquisa de novas tecnologias. No CenPRA, a pesquisa envolve a investigação de novos materiais e processos para novas estruturas de mostradores (displays) e o desenvolvimento de novas aplicações para os mesmos, como janelas inteligentes - que escurecem ou clareiam, conforme desejo do usuário -, displays flexíveis, displays que refletem luz ambiente, entre outras.

 
Mammana também mostrou nos Estados Unidos os avanços na pesquisa dos chamados Displays de Emissão de Campo (FED, na sigla em inglês). “Creio que foi possível mostrar que o sucesso da tecnologia de FED de grande área (dezenas de polegadas) passa necessariamente pelo licenciamento da patente do CenPRA. Conseguimos inovações no método de bombeamento dos gases residuais, o que resolve problemas críticos de confiabilidade até hoje não resolvidos internacionalmente”, disse Mammana.


Os FEDs são de grande interesse para os pesquisadores membros da SID. Esses mostradores utilizam uma grande estrutura de nanotubos de carbono e representa uma nova perspectiva tecnológica, além de ter condições de ocupar um importante espaço no mercado de displays planos, já que apresentam um baixo consumo de eletricidade, são planos como os de cristal líquido e têm a qualidade da imagem dos tubos de raios catódicos - o famoso tubo de imagem amplamente usado em televisores e monitores de computares.


A tecnologia de desenvolvimento dos FEDs ainda não está fechada, o que quer dizer que essas pesquisas podem colocar o Brasil dentro do grupo dos países detentores de tecnologia na área de mostradores de informação. Em novembro, o Brasil sediará um evento do SID, entre os dias 12 e 15, o Latin American Chapter of SID. “Esse evento será muito importante, pois contará com representantes de várias empresas da área de displays. Esperamos que surjam oportunidades de negócios para grupos brasileiros de P&D, que podem oferecer serviços de desenvolvimento de tecnologias para estas empresas. Já existe uma tendência de transferência de algumas atividades de P&D na área para o Brasil”, afirmou Mammana.


Desde 2005, o programa brasileiro “Um Computador por Aluno” conta com a Divisão de Mostradores da Informação do CenPRA para avaliar as tecnologias propostas em termos de viabilidade, ergonomia e aceitação dos displays e, possivelmente, oferecer alternativas tecnológicas. Os primeiros protótipos desses computadores chegaram ao Brasil em março deste ano. Foram 1.840 máquinas doadas pelas empresas fabricantes, a Intel, a organização OLPC e a Encore. Os computadores serão avaliados, a princípio, em 10 escolas de sete estados brasileiros - Amazonas, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins . O objetivo inicial é avaliar a funcionalidade pedagógica da máquina em sala de aula e analisar as características e especificações técnicas dos equipamentos, antes de expandir o programa para todo o país.

Por Luciano Valente – Revista eletrônica Com Ciência – 27/09/2007

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